"Diálogos com Paulo Freire": 2011/1º!

Neste primeiro semestre de 2011 o blog disponibilizará os instrumentos de pesquisa (mapas/sínteses conceituais, perguntas, glossários, bibliografias), textos, etc. produzidos durante a disciplina optativa "Diálogos com Paulo Freire".
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Conceitos e autores : verbetes

Os verbetes abaixo, retirados do Dicionário Básico de Filosofia de Danilo Marcondes e Hilton Japiassú (Ed. Jorge Zahar), apresentam alguns autores, correntes de pensamento e conceitos citados por Paulo Freire ou presentes no contexto de sua obra. Os significados dos conceitos aqui apresentados não coincidem necessariamente com os significados dados por Freire em seus textos.

Amoroso Lima, Alceu (1893-1985) ensaísta, professor universitário e pensador brasileiro (nascido no Rio de Janeiro). Formado pela Faculdade de Ciências Jurídicas e Sociais do Rio de Janeiro, foi catedrático de introdução à ciência do direito, de economia, de sociologia e de literatura em várias escolas superiores do Rio até 1963. Exerceu a crítica literária em vários jornais, sob o pseudônimo de Tristão de Ataíde. Participou do movimento modernista de 1922. Convertido ao catolicismo em 1928. Passou a exercer uma forte influência no meio intelectual brasileiro, sobretudo por sua crítica literária e por seus numerosos ensaios sobre direito, pedagogia, sociologia e a situação política nacional. Não sendo propriamente um filósofo, desenvolveu um pensamento bastante marcado pelos filósofos cristãos preocupados com a defesa de um "humanismo integral". Tornou-se, assim, um líder do catolicismo dito "progressista" no Brasil. Presidiu o Centro Dom Vital, de 1928 a 1963. Foi membro da Academia Brasileira de Letras. Seus livros mais importantes são, além de sua obra ficcional: Adeus à disponibilidade e outros adeuses (1928), Debates pedagógicos (1932), Pela reforma social (1933), Mitos de nosso tempo (1943), Humanismo pedagógico (1944), O trabalho no mundo moderno (1959) e Revolução, reação ou reforma (1964).

Dewey, John (1859-1952): O filósofo e educador norte-americano John Dewey foi professor de filosofia, psicologia e pedagogia nas Universidades de Chicago e Columbia (Nova York). Desenvolveu o pragmatismo formulado por Peirce e William James, aplicando essa doutrina à lógica e à ética, e defendendo o instrumentalismo ou o experimentalismo em teoria da ciência. Tornou-se célebre por ter fundado a chamada escola ativa. Sua obra é vasta. Citemos os livros mais importantes: Escola e sociedade (1889), A criança e o currículo (1902), Como nós pensamos (1910), Democracia e educação (1916), Experiência e educação (1938), Ensaios de lógica experimental (1916, 1954). Criticou severamente o sistema tradicional de ensino centrado no mestre, esse monarca da classe. Formulou uma concepção pedagógica segundo a qual a educação deve ser "urna preparação para a vida adulta", seus fins não devendo ser autoritariamente fixados do exterior nem tampouco estáticos. A preocupação central de toda construção pedagógica deve ser a experiência, porque toda a pedagogia precisa organizar-se em torno desse fenômeno atual e vivo, que é o problema prático que se põe a criança, seguido do debate no qual ela se engaja para resolvê-lo. A didática se resume no famoso método "do problema", que se desenvolve em cinco fases: a) a criança traz um problema (um objeto, uma preocupação etc.. relacionados com sua vida); b) definição em comum do problema; c) inspeção dos dados disponíveis; d) formação de uma hipótese de trabalho; e) comprovação da experiência (da validade das informações. dos meios e dos raciocínios). Assim, ao transfigurar a escola, Dewey inventou a escola ativa e os métodos ativos. Sua essência consiste em lançar mão das motivações e dos interesses espontâneos da criança para a descoberta, pela experiência pessoal, das informações úteis a serem assimiladas.

Dialética (lat. dialectica, do gr. dialektike: discussão) Em nossos dias, utiliza-se bastante o termo "dialética" para se dar uma aparência de racionalidade aos modos de explicação e demonstração confusos e aproximativos. Mas a tradição filosófica lhe dá significados bem precisos.
1. Em Platão, a dialética é o processo pelo qual a alma se eleva, por degraus, das aparências sensíveis às realidades inteligíveis ou ideias. Ele emprega o verbo dialeghestai em seu sentido etimológico de "dialogar", isto é, de fazer passar o logos na troca entre dois interlocutores. A dialética é um instrumento de busca da verdade, uma pedagogia científica do diálogo graças ao qual o aprendiz de filósofo, tendo conseguido dominar suas pulsões corporais e vencer a crença nos dados do mundo sensível, utiliza sistematicamente o discurso para chegar à percepção das essências, isto é, à ordem da verdade.
2. Em Aristóteles, a dialética é a dedução feita a partir de premissas apenas prováveis. Ele opõe ao silogismo científico, fundado em premissas consideradas verdadeiras e concluindo necessariamente pela "força da forma", o silogismo dialético que possui a mesma estrutura de necessidade, mas tendo apenas premissas prováveis, concluindo apenas de modo provável.
3. Em Hegel, a dialética é o movimento racional que nos permite superar uma contradição. Não é um método, mas um movimento conjunto do pensamento e do real: "Chamamos de dialética o movimento racional superior em favor do qual esses termos na aparência separados (o ser e o nada) passam espontaneamente uns nos outros, em virtude mesmo daquilo que eles são, encontrando-se eliminada a hipótese de sua separação". Para pensarmos a história, diz Hegel, importa-nos concebê-la como sucessão de momentos, cada um deles formando uma totalidade, momento que só se apresenta opondo-se ao momento que o precedeu: ele o nega manifestando suas insuficiências e seu caráter parcial; e o supera na medida em que eleva a um estágio superior, para resolvê-los – os problemas não-resolvidos. E na medida em que afirma urna propriedade comum do pensamento e das coisas, a dialética pretende ser a chave do saber absoluto: do movimento do pensamento poderemos deduzir o movimento do mundo: logo, o pensamento humano pode conhecer a totalidade do mundo (caráter metafísico da dialética).
4. Marx faz da dialética um método. Insiste na necessidade de considerarmos a realidade socioeconômica de determinada época como um todo articulado, atravessado por contradições específicas, entre as quais a da luta de classes. A partir dele, mas graças sobretudo à contribuição de Engels, a dialética se converte no método do materialismo e no processo do movimento histórico que considera a Natureza: a) como um todo coerente em que os fenômenos se condicionam reciprocamente; b) como um estado de mudança e de movimento: c) como o lugar onde o processo de crescimento das mudanças quantitativas gera, por acumulação e por saltos, mutações de ordem qualitativa; d) como a sede das contradições internas, seus fenômenos tendo um lado positivo e o outro negativo, um passado e um futuro, o que provoca a luta das tendências contrárias que gera o progresso (Marx-Engels).

Existencialismo: Filosofia contemporânea segundo a qual, no homem, a existência, que se identifica com sua liberdade, precede a essência: por isso, desde nosso nascimento somos lançados e abandonados no mundo, sem apoio e sem referência a valores; somos nós que devemos criar nossos valores através de nossa própria liberdade e sob nossa própria responsabilidade. Quando Sartre diz que a existência precede a essência quer mostrar que a liberdade é a essência do homem: "A liberdade do para-si aparece como seu ser." Assim, a filosofia existencialista é centrada sobre a existência e sobre o homem. Ela privilegia a oposição entre a existência e a essência. Quanto ao homem, ele é aquilo que cada um faz de sua vida, nos limites das determinações físicas. psicológicas ou sociais que pesam sobre ele. Mas não existe uma natureza humana da qual nossa existência seria um simples desenvolvimento. O cerne do existencialismo é a liberdade, pois cada indivíduo é definido por aquilo que ele faz. Daí o interesse dos existencialistas pela política: somos responsáveis por nós mesmos e por aquilo que nos cerca, notadamente, a sociedade: aquilo que nos cerca é nossa obra. Como o pensamento filosófico (abstrato e generalizante) não apreende a existência individual, na qual a angústia tem um papel preponderante, o existencialismo abre-se para a literatura e para o teatro, fazendo a filosofia despontar em romances e peças teatrais. Principais representantes: Jean-Paul Sarte, Albert Camus.

Fenomenologia:
1. Termo criado no séc. XVIII pelo filósofo J.H. Lambert (1728-1777), designando o estudo puramente descritivo do fenômeno tal qual este se apresenta à nossa experiência.
2. Hegel emprega o termo em sua Fenomenologia do espírito (1807) para designar o que denomina de 'ciência da experiência da consciência', ou seja, o exame do processo dialético de constituição da consciência desde seu nível mais básico, o sensível, até as formas mais elaboradas da consciência de si, que levariam finalmente à apreensão do absoluto.
3. Corrente filosófica fundada por Husserl, visando estabelecer um método de fundamentação da ciência e de constituição da filosofia como ciência rigorosa. O projeto fenomenológico se define como uma "volta às coisas mesmas'', isto é, aos fenômenos, aquilo que aparece à consciência, que se dá como seu objeto intencional. O conceito de intencionalidade ocupa um lugar central na fenomenologia, definindo a própria consciência como intencional, como voltada para o mundo: "toda consciência e consciência de alguma coisa" (Husserl). Dessa forma, a fenomenologia pretende ao mesmo tempo combater o empirismo e o psicologismo e superar a oposição tradicional entre realismo e idealismo. A fenomenologia pode ser considerada uma das principais correntes filosóficas do século XX, sobretudo na Alemanha e na França, tendo influenciado fortemente o pensamento de Heidegger e o existencialismo de Sartre, e dando origem a importantes desdobramentos na obra de autores como Merleau-Ponty e Ricouer.


Intencionalidade: conceito central da fenomenologia, derivado de Brentano que, por sua vez, teria se inspirado na escolástica. A intencionalidade é a característica definidora da consciência, na medida em que está necessariamente voltada para um objeto: "Toda consciência é consciência de algo". A consciência só é consciência a partir de sua relação com o objeto, isto é, com um mundo já constituído, que a precede. Por outro lado, esse mundo só adquire sentido enquanto objeto da consciência, visado por ela. A inter-relação entre a consciência e o real definida pela intencionalidade representa a tentativa da fenomenologia de superar a oposição entre idealismo e realismo.

Marxismo: Termo que designa tanto o pensamento de Karl Marx e de seu principal colaborador Friedrich Engels, como também as diferentes correntes que se desenvolveram a partir do pensamento de Marx, levando a se distinguir, por vezes, entre o marxismo (relativo a esses desenvolvimentos) e o pensamento marxiano (do próprio Marx). A obra de Marx estende-se em múltiplas direções, incluindo não só a filosofia, como a economia, a ciência política, a história etc.; e sua imensa influência se encontra em todas essas áreas. O marxismo é, por vezes, também conhecido como materialismo histórico, materialismo dialético e socialismo científico (termo empregado por Engels). O pensamento filosófico de Marx desenvolve-se a partir de uma crítica da filosofia hegeliana e da tradição racionalista. Considera que essa tradição, por manter suas análises no plano das ideias, do espírito, da consciência humana, não chegava a ser suficientemente crítica por não atingir a verdadeira origem dessas ideias — a qual estaria na base material da sociedade, em sua estrutura econômica e nas relações de produção que esta mantém. Isto equivaleria, segundo Marx, a "colocar o homem de Hegel de cabeça para baixo". Seria portanto necessário analisar o capitalismo — modo de produção da sociedade contemporânea para Marx — a fim de revelar sua natureza de dominação e exploração do proletariado, e desmascará-la. O pensamento de Marx, entretanto, não se restringe a unta análise teórica, mas busca formular os princípios de uma prática política voltada para a revolução que destruiria a sociedade capitalista para construir o socialismo, a sociedade sem classes, chegando ao fim do Estado. "Os filósofos sempre se preocuparam em interpretar a realidade, é preciso agora transformá-la." O marxismo se desenvolveu em várias correntes que podemos subdividir em políticas e teóricas, embora nem sempre a fronteira entre ambas seja muito nítida. Dentre as correntes políticas temos, p.ex., o marxismo-leninismo ou simplesmente leninismo, também chamado de marxismo ortodoxo, ou materialismo dialético, que se tornou a doutrina oficial na União Soviética, após a revolução de 1917; o trotskismo, de Leon Trotski, que defendeu contra o leninismo a teoria da revolução permanente: o maoísmo, doutrina desenvolvida por Mao Tsé-tung, que chegou ao poder na China após a revolução de 1947. Dentre as correntes teóricas, podemos destacar os seguintes pensadores e escolas: o alemão Karl Kautsky (1854-1938), um dos principais seguidores de Marx, defensor de um marxismo revolucionário, contra tendências revisionistas como a de Eduard Bernstein; o húngaro Georg Lukács (1885-1971), que propõe uma interpretação de Marx valorizando suas raízes hegelianas; o alemão Karl Korsch (1889-1961), que enfatiza a base filosófica da teoria social e política de Marx; o austro-marxismo de, dentre outros, Max Adler (1873-1937), que incorpora elementos kantianos à sua interpretação de Marx; o alemão Ernst Bloch (1885-1977), que insere o marxismo na tradição do idealismo alemão; o italiano Antonio Gramsci (1891-1937), fundador do Partido Comunista Italiano e que desenvolve uma filosofia da práxis; o francês Louis Althusser (1918-90), que faz uma leitura de Marx em uma perspectiva estruturalista; o marxismo de Sartre; o marxismo da escola de Frankfurt de Adorno, Horkheimer, Benjamin e posteriormente Marcuse e Habermas, que se volta para a análise da sociedade industrial, do capitalismo avançado e de sua produção cultural. Muitas dessas correntes encontram-se inclusive em conflito, cada uma buscando ser mais fiel ao pensamento autêntico de Marx; porém umas enfatizam seu aspecto econômico e político, outras a análise histórica, outras ainda o caráter filosófico: umas destacam a influência de Hegel, outras a doutrina revolucionária. Um dos aspectos mais polêmicos da interpretação do pensamento de Marx diz respeito à sua atualidade, ou seja, à validade da análise marxista, voltada para a realidade do surgimento do capitalismo no séc. XIX, em sua aplicação agora à sociedade contemporânea com o capitalismo avançado, que possui características não previstas pelo próprio Marx. Isso faz com que várias dessas correntes se denominem "neomarxistas", na medida em que constituem tentativas de desenvolvimento e adaptação do pensamento de Marx a essa nova realidade.

Personalismo: Corrente filosófica contemporânea, desenvolveu-se principalmente na França, destacando-se sobretudo Emmanuel Mounier e um grupo de colaboradores da revista Esprit (fundada em 1932), principal veículo das ideias do movimento. Caracteriza-se essencialmente como pensamento social e moral, opondo-se ao individualismo e ao materialismo. Segundo Mounier, "chamamos personalismo toda doutrina ... que afirma o primado da pessoa humana sobre as necessidades materiais". "A primeira preocupação do individualismo é centrar o indivíduo em si mesmo, a primeira preocupação do personalismo é descentrá-lo para estabelecê-lo nas perspectivas abertas da pessoa" (Manifesto a serviço do personalismo).

Pessoa (lat. persona: originariamente, máscara teatral, por extensão o próprio ator, e daí seu papel, as características de um indivíduo, a personalidade):
1. Na tradição escolástica, a pessoa é uma substância individual de natureza racional, existindo como um todo indivisível (um indivíduo) dotado de razão.
2. Em um sentido jurídico, originário do direito romano, cidadão, o indivíduo na medida em que possui uma existência civil e portanto direitos, em contraste, p. ex., com os escravos, que não possuíam direitos.
3. Na moral kantiana, o ser humano como fim em si mesmo, como valor absoluto, opondo-se à coisa que é apenas um meio e possui valor relativo. Daí a noção de dignidade da pessoa, derivada de sua autonomia, do fato de que tem como lei que a determina sua própria razão.
4. No pensamento marcado pelo cristianismo, a pessoa é o ser humano racional e livre, definido por sua dimensão de sujeito moral e espiritual, plenamente consciente do bem e do mal, livre e responsável. Retomado pelo personalismo de E. Mounier, este conceito de pessoa constitui o centro de uma nova filosofia de engajamento. A pessoa não é uma realidade definível, uma vez que não pode ser apreendida do exterior pelo olhar objetivante das ciências: "a pessoa se apreende e se conhece em seu ato, como movimento de personalização", sua experiência fundamental sendo a da comunicação.

Vieira Pinto, Álvaro (1909-1987). De formação médica, Vieira Pinto tornou-se, nas décadas de 50 e 60, professor de história da filosofia na antiga Universidade do Brasil (atual UFRJ). Pertenceu, inicialmente, à corrente de pensamento neotomista. Em seguida, aderiu ao existencialismo sartriano e, finalmente, ao marxismo. Apoiado na ideia de intencionalidade, tentou renovar algumas teses do marxismo. Procurou conferir, por exemplo, um estatuto filosófico à teoria marxista do reflexo. Até 1964, quando foi afastado da vida universitária por razões políticas, desenvolveu intensa atividade no Instituto Superior de Estudos Brasileiros (ISEB), do qual se tornou a figura mais representativa. Juntamente com um grupo de pensadores e cultores das ciências sociais, empenhou-se no estudo interdisciplinar dos problemas brasileiros, segundo um enfoque ao mesmo tempo marxista e nacionalista. Nessa fase, seu pensamento se caracterizou pela crescente correlação estabelecida entre os aspectos filosóficos e os políticos, visando servir de suporte a um programa de governo. Nos últimos anos de sua vida, Vieira Pinto retornou às teses do marxismo tradicional, mas sem perder sua preocupação dominante com os problemas da cultura e do desenvolvimento nacionais. Obras filosóficas: Ensaio sobre a dinâmica na cosmologia de Platão (1950), Ideologia e desenvolvimento nacional (1956: 2ª ed. 1959), Ciência e existência (1969), Consciência e realidade nacional. 2 vols. (1960), Sete lições sobre educação de adultos (1982).

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